domingo, 12 de dezembro de 2010

MOÇÃO DE REPÚDIO contra a violência brutalmente cometidos contra o rapper e arte-educador Ice Band

MOÇÃO DE REPÚDIO

O Centro de Referência Hip Hop Brasil e todas as entidades e amigos que assinam este documento manifestam veemente repúdio aos atos de violência brutalmente cometidos contra o rapper e arte-educador Hudson Carlos de Oliveira, o Ice Band, dia 28 de novembro de 2010, no bar Brasil 41, em Santa Efigênia. O artista, deficiente físico e visual, foi agredido covardemente por sete homens, por motivo fútil. Em razão dos chutes e socos que recebeu, Ice Band teve fraturas no maxilar e na clavícula, além de lesões na arcada dentária e escoriações pelo corpo. Desde este dia, ele está internado no Hospital de Pronto Socorro João XXIII, onde aguarda vaga para cirurgia de recuperação na mandíbula, sem previsão de alta.

Hudson Carlos de Oliveira foi espancado, humilhado publicamente, chamado de marginal e, durante o ataque, ouviu de um dos agressores: “Mata que é bandido”. Quando conseguiu se desvencilhar do ataque para buscar socorro em Batalhão da Polícia Militar próximo ao local, foi tratado como agressor, apesar das inúmeras evidências da agressão sofrida, e imobilizado com brutalidade, até que os fatos se esclarecessem com intervenção das testemunhas.

Negro, militante do hip hop e artista, Ice Band tem a cara da favela e se orgulha de sua identidade. Há pelo menos 10 anos se dedica de forma incansável à defesa dos Direitos Humanos, atua como mediador de conflitos no Aglomerado Serra, é autor do projeto Hip Hop – Educação para a Vida, em que realiza palestras de enfrentamento da violência social em escolas municipais de Belo Horizonte, e fundador e presidente do Centro de Referência Hip Hop Brasil - entidade não-governamental de promoção e divulgação da arte produzida na periferia. Ano passado, foi agraciado com medalha de Honra ao Mérito, na Câmara dos Vereadores, em reconhecimento à importância dos serviços prestados à comunidade.

A agressão sofrida por Ice Band não é um ato corriqueiro, mas legítima expressão de uma sociedade racista, preconceituosa e separatista que, em pleno século 21 e a despeito de todo desenvolvimento tecnológico, não aprendeu o elementar, que é o respeito à diversidade social e cultural, que não acata os princípios de igualdade assegurados pela Constituição Brasileira e que, acima de tudo, não reconhece erros históricos que continuam vitimando seus cidadãos.

Sob o argumento de que não era convidado de uma festa particular que ocorria na calçada de uma via pública, Ice Band foi vítima de violência absurda, executada por grupo covarde, que exibiu na delegacia seus currículos profissionais com a arrogância dos abastados e influentes que se julgam acima da lei e dos princípios básicos da convivência social. Dos sete agressores indicados à polícia pelo artista, ainda no local, apenas dois foram encaminhados à delegacia para prestarem depoimentos e foram liberados menos de 24 horas depois da barbárie cometida, apesar do flagrante delito declarado no Boletim de Ocorrência.

Esta é a sociedade em que vivemos, mas não a que queremos para uma nação que pode ser realmente livre, justa e pacífica. Fazer da violência um episódio banal é ridicularizar a vida, desprezar o valor do outro, desqualificar o sentido imperativo de conviver tomando em conta a pluralidade. Uma sociedade não se faz com um amontoado de indivíduos que defendem seus pequenos interesses particulares, mas com cidadãos dispostos a aprender cada dia um pouco mais sobre si próprio sem ter que aniquilar seu semelhante.

Pela gravidade das agressões sofridas por Ice Band, reivindicamos que o processo judicial reconheça o crime como tentativa de homicídio e não apenas lesão corporal.
Pelo caráter discriminatório do ato que motivou o crime, exigimos sua configuração como delito motivado por racismo.

Pela possibilidade de reconhecimento dos agressores, pela vítima e testemunhas, não aceitaremos que apenas dois dos acusados constem do processo, mas todos os envolvidos.
Abaixo, assinam esta MOÇÃO DE REPÚDIO todos os que acreditam na paz como resultado de um processo de construção coletiva, acima da prepotência e das supostas verdades de uma sociedade escravocrata, servil e incapaz de reconhecer no desigual seu semelhante.

4 comentários:

  1. Não escondem mais a raiva! A justiça há de ser feita! A luta apenas começando!

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  2. Preconceito. Intolerância. Certeza de impunidade. É a soma de tudo isto que alimenta a conduta criminosa e covarde dos agressores.

    Preconceito. Ignorância. Ingenuidade. Medo e Prevaricação. É o conjunto dos defeitos desses policiais traidores da instituição que lhe empresta a farda e o distintivo!

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  3. Parece que depois que tivemos um metalúrgico nordestino de cabelos meio crespo na presidencia da república, e eleitores nordestinos influindo decisivamente na eleição presidencial, o racismo resolveu reagir raivosamente mostrando a sua face mais cruel e desumana, a porrada, o incitamento ao crime contra pessoas de determinadas regiões ou de determinada côr, sempre na covardia de muitos contra um. Como nos enforcamentos regados a churrascos nos EEUU. O aumento da violência física hoje contra os negros no BR é também uma herança da escravidão no país. O Negro apanha e ainda é indiciado criminalmente. Isso prescisa ter um acompanhamento da sociedade para que esses criminosos paguem pelo crime de tentativa de homicídio.

    Quanto aos policiais, na sua grande maioria, vindos de classe humilde, também fazem parte dessa sociedade racista. Aliás, são peças impotantes na exclusão de determinados seguimentos sociais. Na sua formação, o policial introjecta o preconceito contra si e contra seus pares, preconceito próprio da nossa cultura racista. Eles são formados e treinados a agirem conforme a ideologia dominante. Só uma vontade política poderá alterar essa praxe repugnante nesse importante órgão de justiça, primeiro, e ás vezes o único contacto do Estado com os pobres e com os negros nesse país.

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