quarta-feira, 18 de julho de 2012

Ato em São Paulo pede fim de genocídio contra os Jovens das Periferias de São Paulo


Movimentos denunciam extermínio e alertam para intensificação da violência na periferia em função de instabilidade na polícia


São Paulo – Um grupo de pessoas protestou no início da noite de ontem (11) no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (MASP), na Avenida Paulista em São Paulo, pelo fim da violência contra a juventude pobre e negra em ato organizado por 39 entidades. 
Os manifestantes denunciam que um “genocídio” vem ocorrendo na periferia de São Paulo e que isso foi intensificado nos últimos dias por causa de um suposto revide da polícia militar à morte de seis agentes públicos. Desde o dia 13 de junho, pelo menos 127 pessoas morreram em situações com sinais de extermínio no estado.
Para Danilo Dara, do coletivo Mães de Maio, a onda de assassinatos expõe a fragilidade da política de segurança do estado. “Qualquer instabilidade, quem paga o preço é a população pobre e negra moradora dos bairros periféricos. Assim como aconteceu em maio de 2006, em abril de 2010, está acontecendo agora, o que configura um estado de exceção”.
“Nós sabemos a cor da pele das pessoas que eles enquadram, atiram, matam. Isso não vem acontecendo só agora, acontece há 400 anos. Apenas está sendo exacerbado nas últimas semanas”, afirma José Henrique Viegas, professor e membro do comitê organizador do ato. 
Segundo dados do Mapa da Violência no Brasil, enquanto o número de homicídios entre a população branca diminuiu entre 2002 e 2010, passando de 18.852 para 13.668, aumentou entre pretos e pardos, subindo de 26.952 para 33.264 no mesmo período. O estudo também revela que em 2011, o número de negros mortos foi, proporcionalmente, 139% maior do que de não-negros. 

Identidade

Por volta das 19h, dois policiais solicitaram a carteira de identidade de um dos organizadores do ato. Wilson Honório da Silva, do Quilombo Raça e Classe, se recusou a fornecer a documentação e argumentou com o policial que a organização da manifestação era horizontal, portanto, não havia um único responsável. Os policiais insistiram e Wilson pediu ao soldado Michel que também mostrasse sua identidade. O oficial respondeu: “Você quer meu RG? Esse uniforme basta para você?”. 
“Nós vivemos em um estado policial que se dá o direito de ter medidas totalmente autoritárias, totalitárias que lembram o fascismo. Isso acontece nesse estado em função do que Alckmin promove como política de estado. Estamos aqui exatamente para denunciar esse tipo de perseguição à população negra”, explica Wilson.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Mortes cometidas por policiais da Rota sobem 45% em SP


DE SÃO PAULO
ANDRÉ CARAMANTE


Policiais militares da Rota, espécie de grupo especial da PM de São Paulo, mataram 45% mais neste ano do que entre janeiro e maio de 2011.
É o que revela análise da Folha feita com os dados de letalidade policial da Corregedoria da Polícia Militar.

Nos cinco primeiros meses de 2011 foram 31 mortes. Em igual período deste ano, 45.
Quando a comparação dos cinco primeiros meses deste ano é feita com o mesmo período de 2010 (quando foram registradas 22 mortes), o aumento é ainda maior: 104,5%.

"O cenário mais grave para a segurança pública não é apenas quando o crime se exacerba, mas quando a própria polícia atua de forma descontrolada e ilegal", diz a cientista social Silvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, no Rio.

"Há fortes indicações de que existem grupos autônomos na polícia, que respondem por conta própria às dinâmicas que encontram nas ruas", afirma.

O tenente-coronel Salvador Modesto Madia, chefe da Rota desde novembro, diz "não se importar com números, mas, sim, com a legalidade dessas mortes" (leia abaixo).

Maio deste ano foi o mês em que a Rota mais matou em São Paulo. Foram 17 mortos.
Seis delas ocorreram numa operação que, segundo a polícia, visava prender suspeitos de integrar o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Cinco dessas mortes foram no estacionamento de um bar. A sexta foi cometida pelo sargento Carlos Aurélio Nogueira, 42, o soldado Marcos Aparecido da Silva, 37, e o cabo Levi Cosme da Silva Júnior, 34, na rodovia Ayrton Senna, a cerca de quatro quilômetros.
Segundo a Polícia Civil e a Corregedoria da PM, Anderson Minhano, 31, foi preso pelos três PMs, levado para a rodovia e torturado antes de ser morto com tiros. Os três PMs foram presos pelo homicídio.

Após as seis mortes, sete PMs foram assassinados (entre 13 e 30 de junho) em crimes com características de terem sido encomendados. Para setores de inteligência da polícia, as mortes dos PMs são uma retaliação. Desde então, 15 ônibus foram queimados e bases da PM, atacadas.
Editoria de Arte/Folhapress
OUTRO LADO
Ao ser questionado anteontem sobre as mortes cometidas pela Rota, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, chefe do grupo, afirmou "não me importo com números, mas, sim, com a legalidade dessas mortes".

Após fazer a afirmação, o tenente-coronel disse estar disposto a falar com a Folha sobre a letalidade da Rota, mas que a conversa dependia da autorização do Comando-Geral da PM que, por sua vez, não permitiu a entrevista.

Madia é um dos réus pelas mortes de 111 presos no Carandiru, em 1992, e um dos homens de confiança de Antonio Ferreira Pinto, secretário da Segurança Pública.

O delegado Jorge Carrasco, chefe do departamento de homicídios, não quis comentar.